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Justiça para Beto – A volta do Carrefour queima em Porto Alegre (20-11-2020)
Relativizar a ação direta contra o Carrefour na sexta-feira, buscar justificativas para a morte de João Alberto recorrendo a antecedentes ou a um soco dado, limitar tudo a “vandalismo”. Preferir uma vidraça a uma revolta de um povo que teve seus antepassados escravizados por quase 400 anos. Preferir a vidraça do que a revolta de um povo pobre em um país colonizado, povo que vive uma vida no sufoco e uma hora explode?
Será que é medo que esta ira te atinja, te machucando ou fazendo tu perder um tanto dos seus privilégios, do seu conforto? Por que gastamos energia, argumentos, palavras defendendo ou minimizando os danos em uma empresa multinacional, muito rica, que aumentou seus ganhos após a morte de João Alberto?
Ah, mas se o Carrefour fechar quantas pessoas vão perder o emprego? É uma questão séria se feita com honestidade. E que tal se pensássemos juntos em pressionar a Justiça e a empresa a fechar as portas e pagar por um ano todos os funcionários, como reparação pelo que fizeram? Que vazem e paguem pelos danos a nossa população. Os ricos tem que ser responsabilizados e sofrerem no bolso, porque familiares nossos, hoje ou ontem, sofreram para que enriquecessem. Ou ainda sofrem em suas mãos, pela violência cotidiana que promovem em seus negócios, como a morte de João Alberto.
A morta de Beto expõe o Racismo, que mata e tem seus cúmplices que o escondem cotidianamente, falando em “vitimismo” ou “miscigenação”;
mostra o programa de morte que é a terceirização, que precariza os direitos do trabalhador e que também transfere a “culpa” das grandes empresas para ara terceirizadas que podem falir, trocar de nome e voltar ali ali;
escancara o comum nestes países: policiais militares fazendo bico nas suas horas de folga. Pessoas que foram treinados usando dinheiro dos nossos impostos para depois servir a iniciativa privada e usar da violência contra nós;
evidencia as empresas de segurança que são de PMs, como a Vector Segurança Patrimonial LTDA, que fazia a segurança do Carrefour e que tem como sócia uma policial militar. Pensa comigo: qual a lógica de você promover uma cidade segura como policial se o seu negócio privado se expande justamente vendendo o combate à insegurança?
Outro papo, mas na mesma linha da promiscuidade entre empresas privadas e polícia, violência, etc:
o maior número de soldados da Brigada Militar que já vi desde 2013 protegia o Carrefour nesta sexta. Assim como protegeram o prédio da RBS/Zero Hora na Avenida Ipiranga diversas vezes. E que certamente defenderão o Zaffari em breve – hipermercado local que através de um Instituto (Floresta) doa viaturas para a polícia.
De quem são o Carrefour, o Zaffari, o Big, a Gerdau, a Zero Hora (Maiojama), a Vale do Rio Doce, a Panvel? De que famílias? De que cor são essas famílias?
De que família são os corpos que caem? Qual a cor das pessoas que caem?
Do Beto.
Dos imigrantes senegaleses que estão sendo perseguidos pela Guarda Municipal de Porto Alegre na Operação Papai Noel. É um deboche o nome desta operação, que pretende combater o comércio informal no centro de Porto Alegre. Atordoar com violência e roubo quem está buscando sustentar sua família.
Qual a cor das pessoas que estão aí embaixo matando, no crime e na polícia?
Lembrando que o Brasil tem a Polícia Militar que mais mata no mundo. Mas também a que mais morre, muitos fazendo bico como segurança, agindo para a milícia ou por suicídio.
Por que não acabamos com esta instituição e começamos outra história?
Por que nossa primeira reação ao ver o fogo é defender o patrimônio privado?
Temos medo de ser atingidos pela revolta?
Que o fogo arda no que conquistamos com suor, parcelado?
Aí rejeitamos a destruição!
Ao invés de estarmos juntos aprimorando a mira, pensando como por fim as nossas mazelas.
Para os brancos que estão de olho no seu racismo diário, como me entendo, é preciso, acredito, nos colocarmos como escudo, invocar essa postura em nós, cada um da sua maneira. E dizer “chega!” ao Carrefour, às multinacionais, à Polícia Militar, aos brancos racistas. Se vão seguir sendo violentos com o povo negro, com as mulheres, com os indígenas, com a população transsexual – e vão seguir! – que primeiro passem por cima de nós. Nos colocarmos, brancos, na luta, seja como for. Sem necessidade de convencimento sobre as nossas práticas, especialmente um convencimento massivo, mas com comprometimento e disposição de viver uma vida de se fazer presente. Se incomodar, de fato, nas nossas escolhas e no nosso estar.
Então, é um convite, reflita com responsabilidade, respeito, dignidade sobre os fatos do nosso tempo, sobre a história do nosso país, sobre como chegamos até aqui e quem são de fato os envolvidos nas histórias. O hoje não começou hoje. Existe o ontem. Não seja um babaca que prefere objetos a vidas. É preciso voltarmos a acreditar na vida. Não perdê-las e seguirmos tranquilos no nosso vídeo-game, na nossa ida ao boteco, na busca do nosso diploma, do nosso sonho. Ainda mais se, para os teus, situações assim são permitidas há gerações. Se você tem casa, que é um direito negado há grande parte do povo brasileiro. Aja sobre o racismo, sobre o fascimo.
Ou assuma de uma vez por todas, na sua rua, no seu trampo, que não vê problema no seu racismo. E aí lide com isso.
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Registros do ato Justiça Por Beto, dia 20 de novembro de 2020, na Zona Norte de Porto Alegre, nos arredores do Carrefour do Passo D’areia.
Porto Alegre