Centrado na memória de luta e na espiritualidade dos povos, dezenas de pessoas se reuniram em articulação na V Assembleia dos Povos, que aconteceu na Aldeia Kaingang Van Ká, Porto Alegre. De 30 de julho a 01 de agosto, o encontro contou com a participação de indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua, coletivos, organizações sociais, populares, lutadores e lutadoras pelo Bem Viver.

A abertura do encontro contou com a participação, através de videochamada, de Yedo Ferreira, expoente da luta pelas Reparações Históricas e Humanitárias e pela construção de um Projeto Político do Povo Negro para o Brasil, e de Joelson Ferreira, idealizador da Teia dos Povos e militante do movimento sem-terra desde a década de 1980. A V Assembleia dos Povos é uma articulação dos povos quilombolas (Frente Quilombola), da Teia dos Povos, dos povos indígenas guarani, kaingang, Xokleng, do povo da rua. O encontro contou com uma Tenda de Saúde focada no zelar pelas medidas sanitárias e teve uma organização autogestionária na cozinha, na limpeza.

Momento de fortalecimento e de troca para seguirmos na luta honrando a trajetória dos mais velhos e construindo um futuro digno para os que vem vindo. Encontro para fundamentar a luta com o foco no chão do território. Fundamentar sua luta. Você já pensou sobre isso?

Acredito que ler a carta da V Assembleia dos Povos, divulgada ao final do encontro, é um convite para isso. O documento está na íntegra no Deriva Jornalismo:

Carta da V Assembleia dos Povos

“Acabou o amor isso aqui vai virar Palmares!”

De 30 de julho a 01 de agosto de 2021 ocorreu, na terra Kaingang, Van Ká, bairro Lami, em Porto Alegre, a V Assembleia dos Povos, que contou com a participação de indígenas, quilombolas, moradores em situação de rua, coletivos, organizações sociais, populares, lutadores e lutadoras pelo Bem Viver. Ao final da Assembleia, depois de momentos de profundas espiritualidades, reflexões, discussões e debates sobre a realidade de nossos povos, os participantes da assembleia divulgaram uma manifestação coletiva, inspirada na memória dos ancestrais e nas espiritualidades dos povos e comunidades.

Os Povos Indígenas, Quilombolas e as demais comunidades originárias e tradicionais são inspiradores e impulsionadores da esperança na construção e consolidação de um mundo onde caibam outros mundos, ou seja, onde os modos de ser e viver dos outros sejam respeitados e valorizados.

Duas dimensões do viver dos povos e comunidades originárias podem nos inspirar: a memória e a espiritualidade

 

A memória

Vincula o passado, presente e futuro.

Dá direção aos passos e ao caminhar contínuo.

Enlaça o ser à coletividade, porque a memória é força e produção coletiva.

Põem em relevo as lutas e seus significados mais profundos, honra aqueles que passaram e os mantém como força inspiradora para os que estão cumprindo a vida e para os que virão.

Ensina sobre como tornar concreto o compromisso, o amor e a resistência.

Mostra o saber que não se apaga, não se anula e muito menos se esquece.

Guia os projetos de vida daqueles que sonham e constroem a justiça.

Demarca o lugar da Terra como mãe, gestora e acolhedora da vida.

Torna os seres irmãos e irmãs nas diferenças e diversidades.

 

A Espiritualidade

Dá sentido à existência dos povos.

Conecta os mundos e os saberes às ancestralidades, divindades e as cosmovisões.

Agrega as lutas físicas, políticas e as retomadas, dando sentido para além da materialidade.

Fortalece as articulações nas lutas por cidadania e dignidade humana, entrelaçando os modos de ser e saber no cotidiano, ritualizando o caminhar e os movimentos dos povos, comunidades, coletivos, periferias em suas culturas.

Memória e espiritualidade apontam os caminhos do bem viver a ser construído.

Memória e espiritualidade compõem a oposição aos projetos de morte dos genocidas e suas crenças na acumulação de bens, no ódio, violência e destruição.

Memória e espiritualidade exigem reparação e condenação pelos crimes da colonização escravocrata, genocida, etnocida e a todas as formas de dominação que violentaram os povos.;

Memória e espiritualidade alicerçam a libertação dos povos e a defesa incondicional da Mãe Terra.

 

Terra Indígena Kaingang, comunidade Van Ká

Porto Alegre, RS, 01 de agosto de 2021

Fotos Deriva Jornalismo

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