Durante uma semana tive a oportunidade de conviver na aldeia Baixa Alegre, Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, sul da Bahia, para contribuir na construção do VI Encontro de Pajés e registrar o evento.

Difícil de transpor em palavras e até em imagens. Aí estão alguns recortes de tempo. A energia do canto, do rezo, das bênçãos dos diversos encantados que chegaram é algo que toca fundo a cada uma e um que estão de corpo e alma na cabana. O ritual como guiança de outros tempos, orientação de luta, fortalecimento da cultura. Uma honra estar presente. Receber os recados, ver a força e diversidades dos povos que nos compõe. Pataxó Hã-hã-hãe, Maxakali, Pataxó de várias regiões, Pankararu, Aranã, povo de Terreiro, reizado.

Em 2012 ocorreram, nesta linha da Aldeia Baixa Alegre, as últimas retomadas de 30 anos de luta. Nestas três décadas, foram 396 retomadas. 396 fazendeiros postos para correr para devolver a terra que é dos Pataxó Hã-hã-hãe. Hoje a Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu tem 54 mil hectares no município de Pau Brasil, sul da Bahia. Nada teria sido feito, diz Cacique Nailton Muniz, sem a proteção e guiança dos encantados.

Para Nailton, promover o VI Encontro de Pajés, fortalecer o espírito através dos rituais semanais é uma estratégia de luta. Para ele, as movimentações de enfrentamento deveriam ser pensadas, sentidas, planejadas durante e após os rituais. Os povos se juntarem no rezo para tramarem formas de frear o ataque aos povos, de se articularem para retomar terras e promover a autodemarcação. Colocar a fé nos encantados e não no processo eleitoral ou jurídico.

Diante do cenário de ataques aos territórios e de carência de linhas estratégicas de resistência, esta guiança espiritual que cita Nailton é uma orientação importantíssima de prestarmos atenção e apoiarmos.

Somente com territórios consolidados, subindo floresta, dentro e fora do corpo, plantando comida, servindo de refúgio para o corpo e para a alma, se defendendo em solidariedade, em teia, vamos resistir ao ataque contínuo do colonialismo no sul do mundo.

 e  Alass Derivas | @derivajornalismo
03 de junho de 2022