Esta foto é um registro de Watatakalu Yawalapiti durante a Marcha das Mulheres Indígenas, em 2019, Brasília. A mão espalmada pintada de urucum. No gesto, com o silêncio profundo de Watatakalu, o grito pelo fim do derramamento de sangue indígena. As próximas fotos são registros do povo Yawalapiti durante a Marcha.
Na semana que vem completa um ano deste gesto de basta de Watatakalu. No ontem, ela perdeu o seu tio. O povo Yawalapiti, o seu grande cacique. Um dos maiores líderes e defensores do Xingu. Nesta quarta, o cacique Aritana Yawalapiti morreu de Covid-19. É mais uma liderança de um povo originário que se vai. A doença sendo usada como mais uma ferramenta de destruição. De vidas, de saberes, de línguas.
Abaixo, uma mensagem de Watatakalu para o Cacique Aritana
“Nunca esquecer a luta dele. Manter a cultura para termos a nossa identidade. Manter o nosso território protegido para que o nosso povo tenha um futuro. Sejamos dignos com as pessoas que cuidamos. Descanse em paz meu tio querido. Homens com grandes histórias nunca morrem.”
E um trecho de um obituário da Carta Capital reportando a morte de Aritana, texto que recomendo muito a leitura. Trecho que mostra um pouco a postura de um grande líder ao pensar a saúde do seu povo.
“Aritana estava consciente dos riscos terríveis da epidemia, e ele havia cancelado o kuarup que iria ocorrer em homenagem a sua mãe, Tepori, em agosto — uma decisão extremamente difícil, e que levou muito tempo de meditação e reflexão, quando se aconselhou com diversas pessoas e amigos médicos sanitaristas. Essa decisão de Aritana, tomada em junho, influenciou todos os outros caciques xinguanos a também suspender as festas que iriam promover encontro de diferentes aldeias, aglomerações e risco de disseminação do novo coronavírus. Serviu de alerta da gravidade a todos os seus parentes, que respeitaram e acolheram a decisão em suas próprias comunidades”.
Envio um abraço solidário a Watatakalu e a todo o seu povo Yawalapiti.
Que a trajetória de luta de Aritana no Xingu nos inspire e que consigamos em algum momento respeitar (ou fazer respeitar) os territórios dos povos originários e seu olhar sobre a vida e, assim, frear esta ofensiva violenta que já dura mais de 500 anos.
06 de agosto de 2020
Porto Alegre
Alass Derivas