X Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre (27-11-2021)

X Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre (27-11-2021)

De 26 a 28 de novembro aconteceu a X Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre. Na sexta, no Brooklyn, um papo de abertura sobre o horizonte anarquista. No sábado, dia todo de atividades na quadra da Acadêmicos da Orgia. Aí abaixo, alguns registros dos shows da noite deste dia. No domingo, as atividades aconteceram na Praça do Aeromóvel, com feira de sementes, papos e outras trocas.

O derivajornalismo participou da feira com a exposição “Barricada, revolta e resistência contra o racismo multinacional do capital”, com fotos do 20 de novembro de 2020, quando as ruas da Avenida Plínio Brasil Milano foram palco de revolta contra o Carrefour pelo assassinato de João Alberto. O texto da exposição e alguns registros dela estão no final dessa postagem.

Imagens da exposição “Barricada, revolta e resistência contra o racismo multinacional do capital” na Praça do Aermóvel. Fotos de Botica Yerba Buena.

“Há pouco mais de um ano atrás seguranças do Carrefour assassinavam João Alberto no hipermercado do Bairro Passo D’areia. Estas fotos são do dia seguinte. 20 de novembro de 2021. Dia da consciência negra em Porto Alegre. Revolta na Avenida Plínio Brasil Milano.

1 ano depois da morte do Beto, dois seguranças estão presos (um era, também, Policial Militar). Outras quatro pessoas esperam julgamento. O Carrefour e a empresa de segurança Vector mal foram responsabilizadas. Dinheiro de indenização foram propostos, que mais parecem jogadas de marketing para melhorar a imagem da marca. O que mudou de fato na vida dos funcionários negros? Sem falar de toda cadeia exploratória que hipermercados assim sustentam. Sistema que atingem diretamente com mais intensidade o povo negro, pobre, indígenas no mundo todo.

Que justiça queremos? Qual a justiça que pregam para nós?

Entidades de advogados tentam que o Carrefour seja devidamente responsabilizado. E que o dinheiro de qualquer acordo ou condenação seja destinado a fundos de promoção da igualdade étnica para reparação do dano coletivo. Lutam para que assassinatos brutais como o de João Alberto não voltem a acontecer em um hipermercado.

No entanto, infelizmente, voltarão. Em violências semelhantes e distintas. Que já estão acontecendo.

Voltarão, porque vivemos no país da Vale do Rio Doce, que destruiu a vida de comunidades inteiras e segue impune; vivemos no país de 20 mil garimpeiros invadindo a terra Yanomami, da milícia que mata vereadora numa cidade como Rio de Janeiro; dos jagunços de fazenda que queimam casa de reza e tiroteiam para cima de indígenas; do transporte público precário cápsula de contágio de Covid-19; da chacina de vingança como política de Estado; da fome, dos mais diversos tráficos. Das taxas de suicídio cada vez maior. Um país, um mundo violento. A população negra, pobre, indígena são as mais atingida pela gana do capital e serão pelas mudanças climáticas.

Até no fim do mundo pretendem manter opressões e privilégios.

O plano é matar e deixar morrer.

Se você não é assolado por essas violências e segue sua vida, seus planos, sem se revoltar com essas situações, você é cúmplice. E precisa assumir o seu racismo. Sua cumplicidade com o genocídio da população negra e dos povos originários. Da população trans, da exploração das mulheres. Tem pessoas morrendo por violência direta e a violência da caneta todo o dia neste país. Precisamos deslocar nossos corpos brancos. Se colocar nesta guerra. Por que, infelizmente, estamos em uma. Em que tem muita gente que sequer tem o direito de comer, de dormir sob um teto. A nossa solidariedade precisa ir para além do conforto das nossas palavras. Ainda mais as virtuais. As balas e o fogo são reais.

Respirar também é, e é urgente.

Como resistirmos ao genocídio que apresentam? Como cada um de nós podemos nos colocar contra políticas de Estado, das multinacionais, das milícias, do mercado financeiro, dos mais diversos tráficos? Como nos colocar para resistir ao matar e ao deixar morrer que nos apresentam como única opção de vida? Ao povo pobre, à população trans, aos indígenas, às mulheres, ao povo negro.

Como? Precisamos de muita organização, do lugar de cada um, com os deslocamentos possíveis para cada um. Mas é preciso nos colocarmos. Organização popular para resistir aos genocídios. Papo urgente. Que vai muito além das eleições, de um presidente ou de outro.

Se não nos colocarmos na luta é porque já tomamos lado.
Por uma vida de luta por João Alberto. Uma vida de luta por todos aqueles que só por serem quem são são alvos do Estado e do Capital. Pelo direito de ser e existir nos seus territórios, a começar pelo próprio corpo.
Revoltemo-nos contra os extermínios!

Alass Derivas,
23 de novembro de 2021″

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