Retomada Indígena no Centro de Porto Alegre (06 a 13-03-2022)

Retomada Indígena no Centro de Porto Alegre (06 a 13-03-2022)

Desde domingo (06), em Porto Alegre, estudantes indígenas dos povos Kaingang, Xokleng, Guarani, Baré, entre outros retomam um prédio da Prefeitura de Porto Alegre, na entrada do Túnel da Conceição, em frente ao Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. São cerca de 50 indígenas, mães que reivindicam a construção de uma Casa do Estudante Indígena, demanda antiga dos povos, que nunca foi atendida pela Universidade. Gah Té Iracema, kujà, pajé do povo Kaingang, que recentemente foi indicada pela universidade para o título de Dra. Honoris Causa, está junto retomando este território. Retomada, pois toda Porto Alegre é território ancestral indígena, guarani, kaingang, charrua. O imóvel abandonado há cinco anos, foi cedido para a UFRGS, mas no começo de fevereiro devolvido à Prefeitura.

O Deriva Jornalismo acompanhou a entrada no prédio, vigílias, atos políticos e mesas de negociações. A movimentação culminou na ocupação do Salão Nobre da reitoria na quinta (10), mas ainda não teve um resultado concreto. A luta segue na semana a seguir, com uma reunião marcada na terça-feira com o Ministério Público Federal. Abaixo, confira como foi esta primeira semana de ocupação, com fotos, vídeos e textos, um registro desta movimentação histórica das estudantes indígenas na luta por moradia digna.

A permanência das pessoas que ingressam na Universidade através de Ações Afirmativas, como as estudantes indígenas, é uma luta dura e importante. Não adianta só colocar as pessoas para dentro dos muros, das salas, é preciso dar condições para que elas sigam seus estudos e dentro da visão de mundo que acreditam e vivem. É preciso o básico, como moradia, alimentação, cuidado com os filhos, respeito à cultura. É luta de anos! Em carta de 2017 direcionada à Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas (CAF) da UFRGS, o coletivo de estudantes indígenas exigiu ações da universidade para que a cultura dos povos seja respeitada e valorizada, o que é fundamental para a permanência nos estudos, a não desistência, o não se “embraquecer”. Entre os pontos sugeridos, no final da carta, o destaque para a importância de uma casa indígena.

“[…] uma casa de estudantes indígenas, uma ég īn, uma casa nossa onde poderemos praticar nossa cultura, nossas formas de estar bem uns com os outros, seja na alimentação, na contação de histórias, nos aconselhamentos dos mais velhos aos mais novos, nos risos e nos rituais, os quais consagram nossos corpos é uma demanda urgente e será pauta contínua na agenda das discussões acerca das ações afirmativas e na construção de uma universidade intercultural e que respeita os povos originários deste território”.

A necessidade de um espaço assim também se dá para que as mulheres possam criar com tranquilidade seus filhos. O tema já foi assunto de reportagens e trabalhos acadêmicos, como a dissertação “Indígena-Mulher-Mãe-Universitária o estar-sendo estudante na UFRGS”, de Patrícia Oliveira Brito. “São mulheres que em geral apresentam na sua forma social e cultural a vivência do casamento e da maternidade em idades que coincidem com a experiência do ensino médio e superior, sendo a convivência com suas crianças uma característica que as identifica”, explica a pesquisadora.

O coletivo indígena denuncia que após 2008, quando as Ações Afirmativas começaram, algumas mulheres já viveram na Casa do Estudante da UFRGS tendo que esconder seus filhos, pois o regimento interno da casa não permite crianças. Os vigias e seguranças fingiam que não viam, mas a necessidade do esconder. Imagina viver assim?

Querendo mudar essa situação, abrir um espaço de respeito à cultura e ao modo de viver dos povos dos estudantes indígenas, este prédio está sendo retomado.

Escute Angélica Domingos e Iracema Gah Té em depoimento logo após a entrada no prédio retomado.

Desde o momento da entrada no prédio, diversas interações aconteceram. Primeiro com pessoas em situação de rua que ocupavam o edifício abandonado. Foram avisados que agora seria uma Ocupação Indígena. Saíram, mas não sem momentos de tensão.

Logo após, a Guarda Municipal esteve presente, alertando para o risco estrutural do prédio e que os indígenas poderiam ser vítima de violência por parte destas pessoas que circulam por ali à noite. Depois, esteve presente Mário Fuentes, coordenador dos Povos Indígenas, Imigrantes, Refugiados e Direitos Difusos, que argumentou que o prédio sendo da Prefeitura seria difícil de negociar com a UFRGS.

As tentativas de desmobilização são muitas de uma ação direta indígena em um dos principais pontos de fluxo da cidade.

A Polícia Federal também esteve presente ainda no domingo. Solicitaram a presença do Conselho Tutelar, que não viu problema na presença das crianças junto de suas mães na retomada.

Veja mais alguns registros do primeiro dia de Retomada:

SEGUNDA-FEIRA (07-03-2022) – DIA 2

As lideranças indígenas participaram na segunda de uma reunião com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Porto Alegre, com a presença do Ministério Público. Woie Patté e Viviane Belini, anunciam que a Prefeitura declarou que buscará um prédio provisório para os estudantes indígenas enquanto negociam uma decisão permanente com a UFRGS. A Prefeitura pediu um prazo de sete (7) dias para este movimento. Enquanto isso, o comprometimento de que a Guarda Municipal não intervirá na circulação da ocupação. Woie destaca que são palavras que não estão nem no papel, que precisamos estar atentos. Mas são boas notícias e é preciso celebrar.

No final da manhã, os agentes da Guarda Municipal disseram receber ordens de impedir que móveis entrassem no prédio, devido a estrutura do edifício. A ordem se estendeu: durante parte do dia só podiam entrar 20 pessoas e nada de objetos, o que englobava colchão, cadeiras de praia e até alimentos, cobertores e sacos de dormir. Antes da chuva da tarde, foi permitido à circulação para dentro do prédio, já como encaminhamento da reunião com a Prefeitura.

“Precisamos de apoio de quem possa se fazer presente para mostrar para UFRGS que essa é uma demanda da comunidade acadêmica como um todo em respeito aos povos indígenas”, Tailine Franco, estudante kaingang.

A partir destes informes, surgiu a necessidade de fortalecer a ocupação e esta aliança entre povos, apoiadores, para estarmos firmes na busca de que a Prefeitura cumpra esta promessa e que, junto da UFRGS, encontrem uma solução definitiva para a moradia universitária indígena digna. Luta que vem desde 2008.

Foi organizada uma cozinha na área externa da retomada.

Descumprindo o acordo da reunião da tarde dos indígenas com a Prefeitura de Porto Alegre, a Guarda Municipal interviu com truculência sobre Woie Patté. Os agentes foram intimidar a retomada devido o uso de um gerador na parte externa do prédio. Woie se pôs em frente à máquina e foi empurrado e ameaçado de ser algemado por um dos guardas.

Na reunião com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social na tarde desta segunda, ficou acordado que a Guarda Municipal não interviria na retomada. A orientação não durou nem 12 horas sem os agentes descumpri-la. Os registros da truculência da Guarda Municipal serão encaminhados ao Ministério Público, que também estava presente na reunião de hoje a tarde.

23h

Registros da noite de vigília na retomada:

TERÇA-FEIRA (08-03-2022) – Dia 3

9h

Esses são registros da vigília da noite de segunda para terça, amanhecer na Retomada da Casa de Estudantes Indígenas.

Da madrugada, este escrito, mosaico de impressões:

Os almoços da retomada domingo e segunda vieram da Cozinha Solidária do MTST, que se mantém em funcionamento há meses, entregando marmitas para pessoas em situação de rua na cidade diariamente. O tapume que hoje é porta da casa das estudantes indígenas foi usado como porta justamente na ocupação do casarão e bosque abandonados pelo Governo Federal na Avenida Azenha, primeiro prédio da cozinha Solidária do MTST. Vejo como sequência de um caminho de luta, o simbólico do tapume e a prática da marmita. Também para mim bate forte ao rever as compas do Coletivo Alicerce na fogueira daa vigília, como foi durante as invasões da Aldeia Guarani Pindó Poty, no Lami, em 2021. Ver os compas do grafismo urbano garantindo as faixas (Imaginem comigo aí toda a faixada do primeiro da andar do prédio disponível para o grafismo Kairú e Kamé Kaingang ou qualquer outra ideia de desenho indígena. Na entrada do Túnel da Conceição, alto fluxo e presença. Bora conseguir tinta para viabilizar isso?)

É sequência também estar com a pajé Gah Té Iracema no Mutirão na Aldeia Tupinamba Água Vermelha na Bahia em janeiro, na retomada Kaingang de Canela em fevereiro, na retomada da casa das Estudantes Indígenas agora, logo mais na I Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos em Luta do Rio Grande do Sul.

Na retomada, chegam coletivos políticos, associações com doação de alimentos, gazebo, gerador, com sua militância uniformizada. Também tem anarquistas e a militância autônoma, na ajuda a limpar um banheiro, na vigília. As compas estudantes Kaingang que retomam hoje o prédio abandonado conheci no trampo com a comunicação do Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas. Encontros e reencontros no caminho de semear. Esta é a minha perspectiva de conexões e de passos na luta coletiva. Vamos nos aprimorando na solidariedade e no convívio em territórios retomados.

A UFRGS a Prefeitura de Porto Alegre precisam achar uma solução para esta retomada. A UFRGS precisa garantir um espaço para que essas pessoas, especialmente mulheres, possam estudar, permanecer na universidade e preservar sua cultura. Por isso estamos aqui agora.

Enquanto isso, estamos experienciando alianças, formas de se fortalecer e fortalecer ações diretas. Neste caso, ação direta de mães indígenas que trazem consigo seus filhos na luta, que trazem consigo a luta das suas mulheres ancestrais. Retomar um território digno que desde 2008 é necessidade para as mães estudantes.

Ocupação de mais um dos prédios ociosos da cidade enquanto cada vez mais tem gente vivendo na rua. Algumas destas gentes que ocupavam de forma precária este prédio, sob um teto sim, mas com muita merda fedendo por perto. As mulheres indígenas estão aqui hoje retomando mais um bosque que é sim um bosque, onde hoje crianças correm sob árvores grandes, fogueira é acesa em um horário que não se via convívio nesta área.

Retomar mais uma das sombras de árvores que há 522 vem sendo usurpadas dos povos. Retomar para que a profecia da Gah Té Iracema não se realize: “Se destruírem esse prédio e os condomínios chegarem aqui, vão arranjar motivo para as árvores estar caindo”.


17h30min

À tarde, na retomada da casa do estudante indígena, em Porto Alegre, Assembleia aberta sob a árvore.

“Nossa luta não começou em 2017, 2008. Nossa luta é milenar, é ancestral. Basta de progresso para eles (capitalistas, assassinos) e para nós nada. Nós queremos vida. Quando estamos aqui, nossos espíritos estão com nós porque é uma luta digna”, fala Woie Patté, do povo Xokleng e mestrando da UFRGS.

Na reunião ampliada desta tarde na retomada das estudantes indígenas, duas funcionárias da Coordenadoria de Acompanhamento das Ações Afirmativas da UFRGS (CAF) trouxeram informações de como a UFRGS está lidando com a reivindicação das estudantes indígenas. E o que a Prefeitura fez no diálogo com a UFRGS. Segundo elas, a informação de que a Retomada está acontecendo já está nos sistemas burocráticos da UFRGS. Já não há como setores da universidade alegaram desconhecer o movimento. No entanto, Edilson Nabarro, coordenador da CAF, ainda não fez contato nem com seus subordinados, nem com as mulheres indígenas para tratar da retomada. Está sumido. O Reitor da Universidade Federal, o interventor Carlos Bulhões, indicado por Bolsonaro, está viajando enquanto a retomada acontece e também não se manifestou.

“É um absurdo o Reitor estar de férias em um momento desses. Esta retomada é o que tem de mais vivo na universidade hoje. Precisamos lutar que para que a reitoria responda o que vai fazer com esse prédio e com as mulheres indígenas”, falou Tamyres Filgueira, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos (NEAB).

Segundo as servidoras da CAF, o setor recebeu um e-mail na manhã desta terça da Secretaria de Desenvolvimento Social, em nome do Mário Fuentes, solicitando o diálogo com a Universidade. Na reunião de segunda, a prefeitura se comprometeu a buscar um espaço para que as indígenas permaneçam até que o governo municipal e a Universidade encontrem uma saída conjunta para a questão da casa do estudante.

Na manhã de quarta, às 10h, uma comissão de estudantes indígenas entregará uma carta de reivindicações à vice-reitora da Universidade, à PRAE e à Prograd, dentro do Salão Nobre da UFRGS. Além disso, se planeja uma intervenção da retomada na reunião do Conselho Universitário que acontece na sexta.


18h30min

Coletivo das estudantes indígenas da UFRGS presente na Marcha do #8M em Porto Alegre.

21h

Acaba de chegar na Retomada da casa das estudantes indígenas a caminhada de solidariedade pós marcha do #8M. Diversas pessoas e coletivos que estavam na marcha rumaram até a ocupação para saldar e se somar a quem está na vigília.

Angélica e Gah Té Kaingang agradeceram o movimento de fortalecimento da ocupação. Vale escutar!

Quarta-feira (09-03-2022)

11h30min

Está acontecendo agora uma reunião das lideranças indígenas da UFRGS com a vice-reitora da UFRGS no Salão Nobre da Reitoria. Fotografei, anotei falas, ia escrever um texto relato sobre a reunião. Mas nada será mais potente do que você dedicar 7 minutos para escutar a fala da Angélica Kaingang, que está nessa luta desde 2008. Desde 2008 luta por espaço digno dentro da universidade. Ela reage assim após a promessa da Reitoria da criação de um grupo de trabalho para estudar possibilidades sobre a casa do estudante. Em 2016 já foi protocolado um pedido e já houve a criação de um grupo de trabalho.

Ainda estamos aqui no Salão Nobre.
As lideranças quebraram todos os protocolos. Dizem que não sairemos daqui enquanto não tivermos uma resposta concreta da Universidade sobre a Casa do Estudante.

Assista a fala da Angélica, escute divulgue, a fala dessa mãe, mulher, estudante indígena.

15h

A omissão da UFRGS também é genocídio!

Na manhã desta segunda, aconteceu, no Salão Nobre da reitoria da UFRGS, uma reunião das lideranças do Coletivo de Estudantes Indígenas da UFRGS com representantes da Universidade para a entregar uma carta de reivindicações referente a Casa de Estudantes Indígenas. O encontro, que começou pelas 10h25min, é para ser rápido, mas durou mais do que o esperado pela reitoria, com climas de tensão e diversos protocolos quebrados. Desde domingo (6), cerca de 50 estudantes indígenas retomaram um prédio da Prefeitura de Porto Alegre ao lado da universidade para lutar por moradia digna.

A vice-reitora Patrícia Pranke, que exerce o cargo máximo da universidade esta semana, logo no começo da reunião pediu objetividade, pois tinha um outro compromisso às 11h. Recebeu como resposta o convite da pajé Gah Té Iracema, liderança Kaingang, de respeitar a cultura indígena, o outro tempo. Respeitar o fato das mulheres indígenas e os povos indígenas estarem tentando ser escutadas há anos nesta pauta. E há 500 anos de forma geral. Como símbolo disso, Gah Té ofereceu a pintura com urucum dos símbolos Kaingang e Xokleng. Aceita com certo constrangimento, fiquei me perguntando se a reitora e os demais presentes removeriam a pintura antes dos seus próximos compromissos. A pajé coloriu a testa de todas e todos presentes na sala. Este movimento quebrou um pouco a tensão da reunião.

Os estudantes indígenas não aguentam mais esperar por uma solução. E realmente irrita pedir que o papo seja rápido ou notar que o coordenador da Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas (CAF), Edilson Nabarro, novamente não se fez presente, não respondeu aos convites de suas servidoras e da própria reitoria. Assim como o reitor, interventor, Carlos Bulhões, que está viajando e ainda não se manifestou sobre a retomada indígena. Quando a vice-reitora falou da dificuldade de falar com Carlos e Edilson, Gah Té jogou seu próprio celular no chão. “Realmente a tecnologia não prestou. Não funciona para vocês. Tem que fazer como nós, comunicar com a fumaça. Eu canso de ligar para Bahia, para o Xingu, Amazonas, isso chega lá. Mas você não consegue falar com seus chefes? Ali da Retomada podíamos começar a cagar ali na cerca, fazer isso com meus netos. Mas eu respeito vocês, a universidade. Mas parece que vocês não nos respeitam. Faça contato com eles, por favor. Essas mentiras não colam comigo não. Queremos é casa para nossos jovens. Eu ocupei aqui a reitoria, fiz fumaça aqui na frente para abrir as grades, abrir vaga para os estudantes indígenas. Mas agora não temos casa digna”.

Leia este texto completo sobre a primeira reunião com a Reitoria da UFRGS AQUI.

21h50min

Encerrou agora a assembleia na retomada da Casa de Estudante Indígena, em Porto Alegre.

Aconteceram repasses da reunião de hoje e da conjuntura da luta pela moradia estudantil neste momento.

Nesta quinta, às 15h, acontecerá uma nova reunião com a Reitoria e outras representações da UFRGS.

A partir daí, a convocação de um ato nesta quinta, em apoio a quem estiver na reunião. E como forma de fazer pressão. O ato está sendo convocado para as 14h, com concentração na retomada.

Convoque seus amigos, seus coletivos, organizações e fortaleça esta luta.

Quinta-feira (10-03-2022) – Dia 5

10h30min

Registros da manhã desta quinta na Retomada do Coletivo de Estudantes Indígenas da UFRGS.

A chuva veio e parece que vem mais à tarde e à noite. No dia de hoje, estudantes que estavam no interior do estado chegam para se somar à ocupação. Quem tiver colchão, colchonetes, cobertores, barracas para doar, vem bem no auxílio na acomodação destas pessoas.

Logo mais, às 14h, acontecerá um ato político, com concentração na retomada. A ideia é prestar apoio aos estudantes e lideranças que estarão em reunião com a Prefeitura e a Universidade, na Faculdade de Educação da UFRGS, às 15h. Neste encontro, a intenção é que a Universidade apresente uma proposta concreta para a reivindicação por moradia das estudantes indígenas.

Convide seus amigos, suas organizações e coletivos e, se possível, some-se no ato.

14h30min

Nesta manhã, o quarto de uma estudante indígena na Casa do Estudante Universitário amanheceu com um cacho de banana na porta. O coletivo de estudantes indígenas da UFRGS denuncia como um ato racista. É por essas que passam as estudantes indígenas dentro da CEU, além de ameaças por estarem lá com seus filhos.

Para acabar com isso, para conseguir uma moradia digna para as estudantes indígenas, é que a Retomada está acontecendo no centro da cidade. É por isso que neste momento dezenas de pessoas estão se reunindo para apoiar a luta das estudantes.

Reza do povo Xokleng antes de sair a caminhada.

Logo mais, às 15h, duas delegações se reúnem com o poder público. Uma com a Universidade Federal, outra com a Procuradoria Geral do Município.

Ambas esperam uma proposta de solução para a demanda da casa do estudante.

16h

Neste momento em frente à Faculdade de Educação da UFRGS, cantos do povo Kaingang.

A reunião com a Reitoria da UFRGS ainda nem começou, pois a vice-reitora, Patrícia Pranke, está se negando a se reunir, pois há mais pessoas na comissão das estudantes do que ontem.

Estamos indo até a reitoria para tentar negociar a viabilização da reunião.

O que chama a atenção no Campus Centro é que novas grandes foram instaladas no pátio, aumentando o cercamento e isolamento da Reitoria. Reforma feita na gestão do interventor Carlos Bulhões durante a pandemia.

Canto do povo Kaingang em frente à Faculdade de Educação da UFRGS:

Após de mais de uma hora de atraso e ameaça de não acontecer, a reunião foi efetivada com a presença de integrantes de diversos setores da Universidade, da Prefeitura, lideranças indígenas, vereadora, assessores de vereadores e deputados, procurador federal Jorge Irajá, entre outres.

Depois de mais de duas horas de reunião, transmitida na íntegra pelo Deriva Jornalismo no Instagram, a reitoria foi ocupada.

18h45min

URGENTE

O Salão nobre da Reitoria da UFRGS acaba de ser ocupado pelos estudantes indígenas da UFRGS e apoiadores.

Os estudantes não sairão daqui até que a reitoria da UFRGS apresente uma resposta concreta de prédio para os estudantes ficarem enquanto o processo de doação de um imóvel na conversa com a Prefeitura avance.

Na reunião de hoje, a universidade foi novamente omissa.

19h45min

Depois de uma hora do Salão Nobre da Reitoria da UFRGS ocupado, a reitoria da UFRGS assinou um documento se comprometendo a dialogar com a Prefeitura de Porto Alegre na busca da doação de um prédio municipal para a construção da Casa do Estudante Indígena. A reunião entre a Universidade, à Prefeitura e o movimento indígena acontecerá nesta sexta, às 15h.

A vice-reitora, Patrícia Pranke, também se comprometeu a sentar segunda-feira pela manhã com o Reitor Carlos Bulhoes, que está viajando, para pensar uma imediata e temporária para as pessoas que hoje retomam.

É um passo inédito nesta luta!

Depois da assinatura do documento, a reitoria foi desocupada e a manifestação voltou até a retomada.

SEXTA-FEIRA (11-03-2022) – Dia 6

No final da tarde de quinta (10), o Salão Nobre da Reitoria da UFRGS foi ocupado por cerca de 100 estudantes indígenas e apoiadores. A ação se deu no final da segunda reunião com a vice-reitora da Universidade, Patrícia Pranke, em exercício esta semana no poder máximo da Universidade. Na reunião estavam além das lideranças do Coletivo Indígena da UFRGS e a anciã Gah Té Nascimento, o procurador do Ministério Público Federal, Jorge Irajá, representantes da Prefeitura de Porto Alegre, representantes de diversos órgãos da Universidade, a vereadora Karen Santos, assessores de vereadores e deputados estaduais. A reunião era uma sequência de um encontro do dia anterior. Neste segundo, a comunidade indígena esperava um retorno concreto da Universidade sobre a demanda da Casa de Estudante Indígena. Patrícia Pranke, apesar de ser cobrada desde o começo do encontro por um retorno objetivo, conduziu a escuta de todos que se inscreveram, aumento a expectativa sobre seu posicionamento.

Entre as falas, a denúncia de Woie Patté de um ato de racismo que aconteceu na Casa do Estudante Universitário (CEU), na manhã de quinta. Um cacho de banana foi pendurado na porta do quarto de um estudante indígena. Símbolo do constrangimento e pressão preconceituosa que vivem os indígenas nesta casa. Além do fato de as mães indígenas precisarem esconder seus filhos para burlar um regimento interno da casa que proíbe crianças. “E a mãe com filhos como estuda?”, questionou o procurador Jorge Irajá. Como resposta, o fato da Universidade dar um auxílio para as mães de 450 reais procurarem uma moradia fora da Universidade. Quem paga aluguel, se alimenta, se desloca, vive com esse valor?

Leia o texto completo no post específico sobre a reunião. AQUI.

16h25

A reunião prometida para a tarde desta sexta com Universidade e Prefeitura não vai acontecer. Depois de uma manhã de negociação tentando efetivar o encontro, a Prefeitura de Porto Alegre recuou.

Segundo informações recebidas, o procurador-geral do município, Roberto Rocha, disse que não pode se reunir mais com o movimento sem a autorização do Prefeito Sebastião Melo. O secretário-adjunto, Luciano Marcoantônio, disse que a Prefeitura está se colocando no processo, mas se esquiva quando pressionado sobre uma audiência com o Prefeito.

Ao mesmo tempo, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul se mostrou disposta à reunião, mas não oficiou a Prefeitura sobre o encontro. O Ministério Público Federal também não se colocou nessa convocação.

Aquele velho empurra empurra. Quantos destes atores vão tomar seu vinho curtindo a chuva do dia de hoje nas suas casas confortáveis? Enquanto as estudantes indígenas, as parentes, com suas crianças pequenas passarão mais alguns dias de dificuldade no prédio insalubre e na área externa. Até quando essa omissão e descaso? Isso também é genocídio.

Está confirmada uma reunião com o Ministério Público Federal na terça à tarde, em que o movimento reivindica da Procuradoria que Universidade e Prefeitura se façam presentes.

Nesta tarde, o Coletivo de Estudantes Indígenas da UFRGS está convocando o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública Federal e apoiadores para uma reunião hoje na retomada às 17h30min para denunciar este descaso e realinhar as estratégias.

A chuva vai seguir nos próximos dias.
Fortaleça a ocupação no final de semana.
Doe lonas, alimentos, lenha!

18h

A retomada seguiu firme durante o final de semana e aguarda as negociações da semana que se inicia nesta segunda. Marcada até agora tem a reunião terça-feira, às 14h30min, no Ministério Público Federal. A partir daí, tudo pode acontecer, mas a certeza que as estudantes indígenas não vão recuar.

Fortaleça a retomada! Doe materiais, dinheiro, se faça presente na ocupação. Lonas, Gazebo, Colchões/colchonetes, Cobertores, Agasalhos
Fraldas de todos os tamanhos, Alimentos, Água.

CONTRIBUA COM QUALQUER VALOR:
Pix: CPF: 03478244048
Jaqueline de Paula
Pix celular: 54 996265542
Viviane Belini Lopes

———————————————————————————————–

Vocês tem acompanhado a Retomada de Estudantes Indígenas em Porto Alegre esta semana? Tem curtido a cobertura que tem sido feita aqui no @derivajornalismo?

Durante esta semana, desde de domingo, imergi na luta das estudantes indígenas, junto desde a entrada no prédio, ficando nas vigílias, acompanhando as dificuldades, negociações e trocas.
Só aqui no Instagram foram 32 postagens até agora, entre fotos e vídeos deste momento histórico da luta indígena em Porto Alegre. Me sinto preenchido, vivo, pois é registrando estes fronts que fazem sentindo ao meu trabalho de registro e memória. E estando junto destas lutadoras.

Algumas pessoas enviam mensagem para este perfil muitas vezes fazendo referência a “vocês”, no plural. Conto com o afeto, apoio e orientação de muitas pessoas, mas na prática aqui não sou uma equipe. Sou um. E às vezes isso é bem cansativo. Não só pelo fato de estar lá de corpo presente, fotografar, editar, escrever, cuidar dos equipamentos. Mas também por ter que correr atrás da viabilização da vida.

O que custeia meu trabalho jornalístico e fotográfico é a contribuição de quem lê. Com essa contribuição que consigo me alimentar, pagar transporte, manutenção dos equipamentos e os boletos em geral. Só o corre de produção de conteúdo já é exigente, mas com a instabilidade financeira fica ainda mais.

Se falta grana, preciso ir atrás de freelancer que não tem a ver com este trabalho aqui e consequentemente consigo dedicar menos tempo ao Deriva Jornalismo e às lutas. Isso é ruim, né?

Falo tudo isso para pedir que, se for possível dentro das suas condições, considere fazer uma contribuição ao meu trabalho se você se informa por ele. Faça um p i X ou assine o financiamento mensal.
https://www.catarse.me/derivajornalismo
Comente, envie mensagem, me pergunte como.

É desafiante seguir nesse trabalho, mas insisto e quero cada vez mais me sentir estável psicologicamente para fazer com mais qualidade, foco e fundamento. Então considere. Qualquer quantia vem bem. Com uma frequência estabelecida vem melhor ainda, pois garante um mínimo planejamento e alívio.

Seguimos na luta, cavocando espaço para fazer com respeito e qualidade o que acredito nesse mundo injusto.

Entre no canal do Deriva no Telegram. Receba direto os conteúdos, para além dos algoritmos. Só clicar no link na bio.
https://t.me/derivajornalismoefoto

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *