Uma saída rápida no começo do isolamento

Uma saída rápida no começo do isolamento

Texto e fotos Alass Derivas

Uma saída rápida, com muito cuidado e precaução, para fazer alguns registros na sexta-feira à tarde no centro de Porto Alegre. Pedi uma foto para Dona Elena Fiorentini. “Tira uma foto minha, filho, faz uma reportagem”. E começou a chorar, pedindo ajuda. Com “uma filha internada e um filho doente”, vende balas e pano de prato na Avenida dos Andradas até as 18h e em frente ao Zaffari da Marechal Floriano até às 22h.

Carros da Guarda Municipal passam alertando para o real risco de vida do Coronavírus, especialmente para a população idosa. Vladimir me pede para dar um contraponto ao recado da Prefeitura. “Sou pobre, preciso trabalhar, estou fazendo pelos meus”.

Surgem vendedores de álcool gel e luvas. O jogo de dama segue, mesmo de máscara.

Embora o ex-presidente Lula tenha se declarado nesta quinta pedindo o isolamento do povo, sua militância arma piquete de venda de camisetas e distribuição de jornais na Esquina democrática. Questiono. “Estou fazendo o meu trabalho, esse vírus é histeria”. Polaridades políticas que se assemelham.

Perto, Kaingangs vendem suas tradicionais cestas de Páscoa. Como será o desfalque dos indígenas nesse que é um período tradicional de levantamento de dinheiro?

Imigrantes senegaleses seguem vendendo fones, roupas e chinelos. A maioria dos trabalhadores em lojas, de importados chineses ao McDonalds, do engraxate ao entregador de aplicativo, é negra. Muitos idosos vendendo água, bala, pano de prato. Para pensarmos que no nosso país a exposição ao vírus tem recorte de classe e principalmente recorte de raça.

No nosso país, infelizmente, a letalidade vai ser maior em uma parcela específica da população. A mesma que morre pela polícia, pelo sucateamento do Estado. É preciso nos mobilizarmos, nós por nós, e nós, brancos, por eles e elas. Há uma campanha de renda básica para trabalhadores informais (http://rendabasica.org.br). Organizações como a Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto está se mobilizando para levantar doações para quem está exposto no sistema penitenciário (lembrando que muita gente está preso sem julgamento. Ou seja, nem há a certeza se são culpados pelos seus crimes). A Ocupação Mulheres Mirabal está recolhendo doações para diaristas. Há campanha para não haver despejo de pessoas que não pagam o aluguel (acompanhe MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Tão pouco corte de luz e água.

Liberem seus funcionários negros e sigam pagando os seus salários!

Nos organizemos para nos proteger do vírus e da precariedade de vida que vem por aí. Busque ajudar. Solidariedade e organização coletiva, porque do governo federal, do Bolsonaro, não vai vir proteção. Pelo contrário, a irresponsabilidade e incapacidade de lidar com essa situação faz parte da necropolítica racista dessa gente.

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